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O desenvolvimento do populismo representa inegavelmente um dos fenômenos políticos mais marcantes das últimas duas décadas. Em suas manifestações contemporâneas, revela-se heterogêneo e pode ser observado de múltiplas formas, distribuídas por todo o espectro político.
Na direita, o populismo está hoje dominado pela variante autoritária, encarnada pelo Rassemblement National (RN) de Marine Le Pen, na França, e seus partidos primos presentes em quase todos os países-membros da União Europeia, como o FPÖ (Partido da Liberdade) austríaca, a Liga italiana ou os partidos conservadores iliberais do Leste Europeu, como o PiS (Partido Direito e Justiça) polonês, o EKRE (Partido Popular Conservador) estoniano ou o Fidesz-União Cívica Húngara. Seu modelo de politização das questões relacionadas à imigração, à autoridade e à identidade nacional, em contraposição ao “cosmopolitismo” das elites liberais, também se faz presente com força nos Estados Unidos – com a eleição de Donald Trump em 2016 e durante os quatro anos em que o republicano ocupou a Casa Branca (mesmo após a derrota em 2020, o ex-presidente segue influente junto a parte significativa da população norte-americana) –, na Turquia, na Índia e no Brasil, com a ascensão de Jair Bolsonaro, entre outros países.
Esse caso específico de populismo é definido pela intersecção da essência do populismo – constituída pelo apelo ao povo, pela crítica às elites e pela primazia da soberania popular – com um nacionalismo xenófobo e autoritário, que o distingue principalmente de um populismo mais igualitário e inclusivo como o que ganhou força na Europa após a crise financeira de 2008, com formações de esquerda radical como Podemos, na Espanha, Syriza, na Grécia …

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Há mais de 35 anos, a revista Futuribles se interessa pela evolução dos sistemas de valores e pelo estudo de sua transformação, frequentemente repercutindo e analisando as pesquisas realizadas pelo European Values Study [1] a cada 9 anos. Neste artigo, Gilles Ivaldi observa a ascensão do populismo autoritário no Velho Continente e o que as pesquisas EVS nos ensinam sobre os fatores que o alimentam entre os cidadãos europeus.
O cientista político francês confronta a teoria do backlash cultural desenvolvida por Ronald Inglehart e Pippa Norris – segundo a qual o retorno do populismo autoritário seria o resultado de uma contrarrevolução cultural, em reação à vasta difusão dos valores liberais – às evoluções dos valores dos europeus constatadas pelo EVS em diversas dimensões como autoritarismo, xenofobia e tradicionalismo nos costumes. Como sempre, a realidade é mais complexa do que parece: a efetiva demanda social por autoridade, o retrocesso nos valores morais tradicionais e a evolução da xenofobia diferem muito de um país europeu para outro (sendo a Europa Ocidental clara e duradouramente mais tolerante do que a Europa Oriental)… O autor também aponta o processo gradual de alinhamento das diferentes gerações no sentido de uma ampla demanda por respeito à autoridade. Em suma, ao examinar o aumento do populismo em curso na Europa, é importante observar as nuances, distinguindo entre áreas geográficas, os valores envolvidos (esfera privada versus esfera pública, por exemplo), assim como relativizar as dinâmicas geracionais. Também não se deve esquecer a influência dos fatores econômicos na formação das opiniões, cujo impacto pode aumentar no atual contexto da crise resultante da pandemia do novo coronavírus, que atingiu o mundo (e a Europa) após a realização da última pesquisa EVS (2017). S.D.

Gilles Ivaldi
Pesquisador do CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica), CEVIPOF (Centro de pesquisas políticas da Sciences Po).
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Subido a Cairn Mundo el 27/01/2022
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